domingo, 6 de junho de 2010

[mini-conto] o monstro da semana : ciclope

O MONSTRO DA SEMANA: CICLOPE

[NOTA:r.v. primeira nota da postagem anterior]

Adamastor vivia para seu trabalho. Não por opção, mas por incompetência: nerd carreirista, era incapaz de cultivar uma vida amorosa. Seu primeiro e último jantar romântico,na faculdade, fora a base de miojo e vinho sangue de boi. Teria mais chances de conseguir uma namorada se mudasse para Marte.

Nada mais lógico - para ele, ao menos - do que,após anos de frustrações inevitáveis na tentativa de conseguir um segundo jantar romântico, usar seu c.v. na solução de seus problemas extra-profissionais. Atuava num ramo esotérico da criptografia : desenvolvimento de marcas d'água inalienáveis que distinguissem produtos legítimos de suas contrapartes piratas. 
Seu grupo testava sistemas de "assinatura" únicas os mais variados, desde isótopos de plutônio a microorganismos sintéticos. Adamastor especializara-se em "tintas mágicas"; buscava a forma ideal de implantar e ler caracteres invisíveis em produtos licensiados(e em contratos legais,letras miúdas indetectáveis nos textos ,de fato).
E quando descobriu sua fórmula mágica, guardou-a avarento apenas para si. A aplicação do sistema secreto não estava na escrita mágica, mas na leitura mágica: como ver o invisível. Adamastor inventou a primeira luneta de "raios-x".
Soube usar sua descoberta apenas de uma forma, é claro. A princípio, ficava estupidificado com as visões escancaradas : a cidade era como uma vasta praia de nudismo. Adamastor tinha que apelar para conter seu entusiasmo, geralmente, lembrando-se do topless de Dercy Gonçalves.
Sua alegria não durou muito, é claro. Ninguém aguenta esse tipo de superestimulação por muito tempo; Adamastor acabou cego por abusar de, bem,sua descoberta.
Qualquer outro indivíduo super-carente conseguiria suprir essa perda usando,bem,sua própria imaginação.Pena que Adamastor não tivesse nenhuma.

3 comentários:

Revistacidadesol disse...

kkk, Érico, Adamastor era eu na nossa época de faculdade.

Revistacidadesol disse...

(O boneco de Érico se aciona): ... e eis que eu me vejo envolto numa auréola de fumaça, num véu de formas cambiantes, fugidias, hipnóticas, promessas de segredos indecifráveis, desde sempre perdidos.

(Lúcio, sapateando, resolve calar o boneco, pois o google não aceita apologia de cigarro. Algumas frases saem entrecortadas): Não sou o Marlboro Man, não vivo nas pradarias, não habito o paraíso fácil de quem não morre... nem nunca morrerá de câncer de pulmão. Cultivo um hábito decadente... que pode me levar a morte, mas afirmo que saber cultivar um vício é uma virtude, é uma arte...Nada de niilismo indolente aqui... que o cigarro é um veneno, mas é um santo veneno, um veneno enviado por deuses que não existem mais -- amém! uma névoa sinistra....Ora, e o que há por detrás da fumaça? Multidões de não-fumantes indignados com...Confinados em nosso pequeno mundo, ascendemos em espirais de fumaça, o planeta em combustão lenta e programada, os céus ... e meu sorriso na névoa cinza como uma meia-lua, como o sorriso do gato de Chelshire...

(Lúcio desliga o gravador de todos os outros bonecos): Só vou deixar vocês falarem daqui a quatro anos, quando vou tentar parar de sapatear de novo!

Revistacidadesol disse...

Viu aí uma de suas participações na minha blognovela?