sábado, 28 de maio de 2011

[crônica?] o blues do musak

O BLUES DO MUSAK

É janeiro e eu estou no saguão do Aeroporto de Confins, esperando um vôo que ainda demorará horas. Esperando o tempo passar,tentando matar o tempo. Mas é o tempo que mata a gente, né.

E musak de vestíbulo de aeroporto não é um metrônomo nada agradável pra passagem lenta e irrevogável da vida. Musak de tudo quanto é tipo: elevador, sala de espera de consultório... E essa coisa deveria ser *relaxante*? Se há um inferno, já sei o que toca nos altos falantes. O tempo todo. Pra gente ter uma noção exata do quanto custa passar uma eternidade na danação.

Então, eu faço hora. Leio alguma coisa. Faço um esboço tosco do meu pé, balaçando no ar - não, parado, pra segurar a pose - impaciente, uma perna cruzada sobre a outra.

Daí me lembro de uma foto que uma... amiga me enviou por email há anos. Era uma foto do pé dela , pose parecida, mas descalço, unhas pretas - ou de uma cor muito escura, não sei onde está o arquivo , para que eu possa checar isso direito - uma mão sobre o pé nú, descansando, acariciando-o, sustentando-o para a pose?

Faço notas. Decido, a princípio, que o título para a crônica que só vou escrever cinco meses depois deveria ser "DESPACHOS DE PASSAGEIROS".

Uma garota se aproxima e sorri ... para um carinha a meu lado, senta-se no banco vazio entre nós dois. Ela tem AMSTERDAN escrito em pontinhos brilhantes na camiseta negra.

Caço outras meninas com o olhar , faço mais esboços, não fico satisfeito com os resultados. Não tem graça, isso de ficar fazendo esboço, nota, ficar só olhando. Logo , a garota e o carinha se levantam e vão embora.

Em algum momento eu escrevo , " 'Gostaria de morar num aeroporto assim',rá,rá". Hoje, acabo de rasgar as notas que fiz na ocasião.

Vontade de sumir dali,né. Ir pra Amsterdan, que seja,  ir pra qualquer outro lugar onde não esteja tocando esse musak dos infernos.

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