"O vencedor , campeão mundial na categoria presley e novo rei ... O Rei!"
, cambaleante, um tanto zonzo, o suor refletindo com força a luz dos holofotes, o velho lutador com forças para responder apenas com acenos de cabeça aos aplausos e urros de aprovação da audiência (ainda bem que o apresentador erguia seu braço no centro do ringue; talvez não o conseguisse por conta própria). O estádio lotado e vibrante...:como nos velhos tempos.
A lembrança da época dourada, a droga do sucesso: à medida em que sua respiração se normaliza, o Rei começava a se sentir arrebatado, senti o vigor e a juventude voltando aos poucos, as pernas se firmando, a postura, o peito inflando-se de satisfação.
Ainda no centro do rignue- do palco: já erguendo o punho livre, as assistentes já limpavam seu suor com toalhas perfumadas, já lhe punham o enorme par de óculos escuros no rosto. Os olhos protegidos da luz forte e de qualquer câmera , observou com discrição seu oponente vencido, retirado calmamente de cena numa maca.
, o elvis da década de 50, mais ágil, forte, vigoroso...mais arrogante : menos experiente. O Rei vencedor estava em péssima forma física, mas de jeito nenhum estava em fim de carreira. Aguentava qualquer pancada por um bom tempo...paciente: apenas esperando que o outro se cansasse, se distraísse, se exibisse - baixasse a guarda, daí, de uma vez só, pimba!:nocaute.
Ninguém ligava para as diferenças de peso e forma-física , muito menos os competidores. Porra, o Rei redefinia todas as regras e regulamentos : estava num categoria uníca e própria – e preenchia todos os seus nichos. E nada de exame anti-dopping: era uma prerrogativa do Rei estar chapado o tempo todo, especialmente em público.
Decidiam quem era o melhor elvis à moda de Las Vegas: num ringue de boxe , sob a ovação da platéia e a licença de redes de tevê a cabo, transmitindo o evento para bilhões de espectadores sistema solar afora (e ao som das máquinas registradoras roletas e caça-níqueis, o volume monstruoso de apostas e os leilões dos direitos de transmissão das lutas revitalizavam a economia moribunda de um planeta terra que perdera seu controle político e fiscal sobre as colônias extra-mundo ).
Cada um dos competidores passando anos em cuidadosa incubação amadurecendo como bons vinhos em sólidos tonéis de madeira ou picles humanos: reproduções fidedignas do modelo do ano ou década crescendo rapidamente com banhos de nutrientes e sob o bombardeio da livraria multimídia que fora-era, seria sempre- a vida inteira do Elvis: todos os seus álbuns, filmes, entrevistas, tudo, sua vida toda, impressa até a data apropriada no córtex plástico dos clones em gestação acelerada.
Criados para decidir de uma vez por todas...ou, ao menos, até a temporada seguinte... a velha questão: qual é o verdadeiro elvis.
Até que lhe arrancassem a coroa da cabeça, o Rei continuaria sendo o Rei. Livrou-se do apresentador e das assistentes, sentindo-se com a metade da idade, o dobro do vigor, caminhou pelo ringue os braços erguidos em triunfo imortal, saudando seu público.
A hora , afinal, do "thank you very much" final; fazendo juz ao nome e ao manto, o Rei se despede de seus súditos com uma extravagante rebolada. E desloca a bacia.
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