domingo, 8 de janeiro de 2012

[ruminiscência] Limpando o salão (depois das festas de fim de ano)

 
É. O tempo passa, né. Como passa.

E a gente, aqui. Vendo o tempo passar. É, sô.

… e a gente nota isso porque o tempo passa e parece que as coisas não mudam, né. Mas mudam, sim. As pequenas coisas, sabe. Elas evoluem.Essas coisinhas bestas. Já notou como a gente melhora com o tempo, mesmo nas coisas mais básicas, naturais? Como tirar meleca do nariz.

Acredito que a melhor hora para catar caca é no meio da noite, especialmente se você dorme sozinho, e se tem insônia ou se passa horas pensando em nada ou em bobagens, esperando o sono chegar. É. A mente viaja , hein?

E o dedo procura instintivamente aquelas pequenas aglutinações de massa comprimindo o interior das narinas. Incrível, como a ponta do indicador – digamos – cabe inteira dentro duma cavidade nasal e ainda tem espaço para se remexer e puxar – sem apoio! - aqueles nacos de matéria que vão se acumulando...E a gente sabe direitinho como puxar, arrastar a massa pelos vãos do nariz... mesmo naqueles momentos delicados como quando, por exemplo, a caca fica presa nos pelos do nariz...Ui.

Mas, mesmo quando alguns pelos vêm junto, a gente sempre executa a operação de resgate com sucesso.

Nem dá para ver direito a massa extraída...mas, maravilhas da natureza: a gente sente direitinho a bola que se forma entre os dedos quando molda aquele material informe no jeito balístico certo...O contentamento...!: a)
da extração bem feita; b) da bola de massa bem firme e redonda que a gente faz com cuidado e elegância ; e, ah, c): de atirar a bolinha de caca num canto do quarto... E isso é essencial na experiência, e talvez seja porque prefiro realizar a operação na quietude da noite: não importa quão diminuta seja a quantidade de caca, não importa quão pequenina seja a bola feita, ela sempre faz um barulho bem claro quando , depois de catapultada pelos dedos hábeis, cai e quica no chão.

É. Isso é como esporte...Nada, é como arte, mesmo.

...não, eu não como meleca. Sei lá, não curto. Mas, é: como no esporte, como na arte, cada um realiza essas operações universais de seu próprio jeito, segundo seu próprio gosto. Mesmo que isso tudo seja primal, instintivo, o modo como cada um realiza – e curte – o ato em si é único, individualizado,  personalizado, aprimorado! em uma vida inteira de prática e experimentação.

… agora, catar cera de ouvido é algo mais hermético e misterioso, para mim ao menos. Nem de longe tão prazeiroso – de sua maneira tranquila,bovina, capiau – quanto catar caca, mas ainda assim intrigante. Essa arte em particular tem sutilezas que me escapam inteiramente.

Há algo quase..autoerótico em todos esses processos... Nesse sentido, sinto falta mesmo é do ato mais básico, rústico, nada sotisfiticado mas certamente fervoroso, frenético mesmo de coçar a frieira entre os dedos do pé. Ah, coisas de infância, de décadas atrás!... Como isso era bom, sô.

Você se lembra, hein? Se lembra?


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