Recém-chegado ao Le Petit Morceau para o início de seu turno de trabalho, François, o maitre, sequer teve para se trocar, convocado às pressas para solucionar uma situação embaraçosa no restaurante.
Suspiroso, resignado, ainda de chapéu na cabeça, encontrou todos os garçons, metade dos cozinheiros e grande parte da clientela da tardinha, amontoados, curiosos, ao redor de um freguês peculiar, de trajes distintos e escuros, olheiras profundas, pele de uma palidez verdadeiramente marmórea, e que não dizia uma palavra, apenas resmungava desconexo, gesticulando vivamente para os presentes.
Ninguém compreendia o que ele tentava dizer.
Malditos mímicos, bufou silenciosamente o maitre.
Monsieur está se sentindo bem?
Monsieur deseja um copo d'água?
Monsieur não quer se sentar? Não?
Olha, ainda acho que ele está tentando fazer o pedio.
É, deve ser estrangeiro, não fala francês.
Com esse tom de pele, deve ser do norte – bem do norte.
(Malditos turistas...)
Bem, Monsieur gostaria de ver nossa seleta carta de vinhos?...
E o cliente temperamental atirou longe, com um safanação espástico, o cardápio que lhe era oferecido.
Ahã, talvez Monsieur deseje como entrada nossa sopa de peixe...
Grrrr...
Olhe, acho que ele está querendo dizer... Espera, espera, já sei, são três palavras, certo? Duas? A primeira é...?
Finalmente agastado, o morto-vivo atirou-se contra a figura mais obesa da roda, justamente o cozinheiro Marcel, derrubando-o com seu próprio peso e mordendo-lhe vigorosamente a papada.
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