terça-feira, 25 de setembro de 2012

[conto] O Monstro da Lagoa Azul

[escrito para o Concurso de Agosto da comunorkútica CONTOS FANTÁSTICOS - tema: "Turismo Fantástico"]


Eu quero ficar
No fundo do mar
No jardim do polvo-marinho
Com você, abraçadinho.
(adaptação livre da letra original de Richard Starkey)


Querido diário!


Sei que já sou bem crescidinha para ter um diário secreto, trancado a chave e, ainda por cima, com capa estampada de coraçõezinhos cor-de-rosa (viu só como eu te escolhi bem, diário do meu coração!), mas,mas mas...!

Mas eu não caibo (ai meu português!) em mim mesma de tanta alegria: melhor bancar a bobinha na intimidade do meu quarto de hotel (e do meu querido diário trancado a chave!) do que trocando fofocas com as outras meninas ("menina",eu? que desaforo, diário!)!

Essa excursão é tudo o que eu sonhava e vai ser ainda mais, pode apostar! Vai valer cada centavo que eu paguei do meu próprio bolso, vai valer cada hora da viagem sem fim (mas que acabou, ufa) naquele busão caindo aos pedaços (ainda tou toda dolorida enquanto te rabisco, diário, caidona na minha caminha cheirando de leve a mofo, mas, pelo menos, mais macia que aqueles bancos de ônibus vazando estofo e molas!)... Enfim: estou exausta, mas tão,tão animada!(dá pra ver, dá pra ver?:-p!)

Porque ano que vem é o Vestibular, a turma se separa, a vida muda... Credo, eu sei que não é o fim do mundo, mas, de certa forma, é um fim, né, diário. Tem coisas que acabam de vez, ano que vem...

Mas esse ano... Hoje! Hoje, a turma ainda está toda junta , longe de casa, longe da escola! ... longe dos pais, ri,ri,ri... Perto dessa praiazinha secreta cheia de promessas: não dá pra ouvir o mar daqui, mas, ah, essa brisa gostosa depois de um dia inteiro na estrada, e aquela lua gigante lá em cima..! Pena que ninguém se anima a fazer luau , aaah!...

Hoje, meu diário! Hoje, este ano ( neste feriadão prolongado ! ) eu ainda faço parte da classe do Tomás. E advinha só quem também veio na excursão, hein, hein? Seu bobo!

E amanhã...Amanhã, quem sabe, hein! Amanhã o mundo começa de novo, todo mundo descançado e fresquinho, todo mundo pronto pra praia, luau... e sabe lá Deus que monte de loucuras, ri, ri!

Tá, isso, se a Rita e o Afrânio deixarem , e acho que dessa vez a gente descobre se eles estão mesmo de caso ou não!... Ué, quem sabe : talvez os dois "teachers" fiquem tão ocupados um com o outro ( e com essa brisa romântica a beira mar ) que esqueçam de pagear a gente! Seria o máximo,hein? Fofoca e farra de sobra pra todo mundo!

Mas é claro que a gente veio para esse cantinho perdido do paraíso não só para passear, mas para aprender também... Ré ré ré,até parece.

Durante a viagem (ai minhas costas e minha poupança!), o Afrânio parecia até mais empolgado do que a turma de folga, todo prosa, parecia menos um professor de História do que um dos "nerds" sem noção lá do colégio ( coitados, nenhuzinho sequer nessa viagem!ré ré ), falando sem parar do seu projeto de pesquisa de estimação, para quem quisesse ouvir...

A coisa toda parece até legal ...vou ver se presto mais atenção na próxima vez em que ele repetir tudo ...de novo! ...toda aquela história doida de "raça de homens-peixe brasileiros" ou sei lá o quê... E é isso que a gente faz na Faculdade, meu diário?! Ri ri ri...

Ai, e ali no ônibus, o Tomás sentado com o Digão logo do outro lado do corredor, os dois brincando com os outros meninos, falando bobagem sem parar... É, meu diário, eu consegui prestar atenção em história nenhuma nessa viagem!

Nossa, começou a esfriar, vou ali pegar mais uma manta... Não saia daqui, diário!

***

Nossa!

Parei um minutinho só para ouvir melhor o vento... você sabe como é a cabecinha solta da tua dona, meu diário! E a brisa pareceu endoidar , levei um susto! A Lucinha e a Maura já estão dormindo a sono alto e a bobona aqui acordada e ouvindo o vento uivando nas frestas das janelas de madeira dessa pensãozinha metida a hotel de veraneio ...

Mas então : parei pra ouvir melhor o rugido esquisito desse ventinho danado... Daí, quando dou por mim, a bobona aqui tinha caído no sono e acorda quase babando com a cara colada nas suas páginas abertas, meu pobre diário!

Nossa, essa história de ouvir o vento... Não, até que não era tão assustador, mas o som era tão engraçado, esquisito mesmo ... Parecia música, sabe. Parecia mais um coro de vozes, chamando, chamando lá longe, vindo lá de ... Sei lá, sabe. Do jeito que ele gemia debaixo da porta, pelas frestas das janelas... Parecia vir lá do fundo. Sabe. Do fundo da terra.

Ai credo. Pensando melhor, é meio assustador mesmo, ainda bem que essa merda parou – ops, antes de lavar essa boca suja com sabão, apagar a luz e desmaiar de sono pra valer, mais uma esquisitice:

Enquanto eu ouvia o tal do vento assustador... não parecia tão assustador na hora, sabe, parecia até embalar a gente, eu, curtindo essa canseira acumulada, a agitação passando ... Enfim! Eu ouvia o vento danado gemendo, e cochilando, cochilando... Olhava a luazona lá fora, além do vidro sujo da janela trancada... Via direitinho o perfil de uma árvore (sei lá de que espécie era a tal árvore, seu diário metido a esperto!)... Cochilava, cochilava e antes de apagar de vez, eu me lembro de ter pensado: como é que um vento barulhento desse jeito não está mexendo uma folhinha sequer dos galhos dessa árvore paradona aí em fora?

Credo! Beijos e bons sonhos pra você, querido diário! Vou pra caminha antes que eu comece a ficar zureta de vez de animação *e* de cansaço - fui!

***

Boa tarde , seu diário! Voltei , veja só o senhor... Ah, você acha mesmo que vou esquecê-lo algum dia, seu ( “seu” nada :meu! ) diário?!

E, nossa, vou te contar ( vou sim, vou sim! ), o dia de hoje foi tão cansativo quanto ontem (ainda mais que eu não dormi muito bem), mas, ah, hoje não é dia de reclamação,não senhor!

Ré, se bem que , do jeito que começou, bem que era para ser : a Rita e o Afrânio fizeram todo mundo levantar cedinho, veja só o senhor!... E ainda tem professor que fala da má vontade dos alunos, que displante!

(mas o Tomás fica uma gracinha de pijama e chinelo, aquela cara inchada de sono, coçando aqueles cabelos encaracolados ... ainda mais en-ca-ra-co-la-dos quando ele acorda despenteado! ... como quem pensa: "que planeta é esse mesmo?",ri ri ri ri)

O café da manhã meia boca não ajudou em nada... Quase tudo veio da cidadezinha mais próxima; dá pra ver que o povo daqui não está acostumado com turismo *mesmo*. E o Afrânio dizendo que isso é vantagem, putz!

Isso, sem falar na *caminhada* até a praia, senhor diário: vinte minutos a pé por uma estradinha de terra cercada de mato (em pleno século vinte e um, doutor diário!) , e, acredite ou não: apesar da distância do mar, senti um cheirinho leve mas desagradável de peixe fresco do início ao fim da “viagem”, eca!

E quer saber de uma coisa ? Esse "passeio" valeu toda a encheção e todo mundo parou de resmungar da falta de sono, dos insetos, do calor , da estrada... todo mundo calou a boca de vez! ... todo aquele nosso bando suado e mal-humorado de “aborrescentes” (afinal, o que é pior: ser chamada de menina ou de aborrescente?!:-p!) da cidade grande: quando terminamos de subir o último morro e demos de cara com o (soem as trombetas!) Paraíso na Terra!

A "praia" é só a uma lua minguante feita de uma areia branquinha , mas tão branquinha, que quase cega a gente quando o sol está alto! E o quase “C” dessa praiazinha branca de lua é uma “enseada”, sabe: ele envolve o pedacinho de mar mais tranquilo que eu já vi! Na verdade, um “D” meio apagado, um recife na saída para o mar, guardando essa lagoazinha, quase, tão brilhante de azul, tão calma mesmo no vai e vem das ondas …!

Protegida; é como a gente se sente, meu diário: chegando cansada nesse cantinho esquecido do mundo, entrando naquela água tão gostosa que dá vontade de beber!,ri ri...

(xiii... lá se vai toda a minha poesia de loira burra, senhor doutor diário... escorrendo feito aquela areiazinha fina e quente na palma da mão da gente... Nossa, viu só, viu só como tou inspirada ?!)

Os morros e o “passeio” chato , a distância do hotel , da rodovia , do resto mundo ... Parece que tudo isso protege o lugar. Sem falar no povo que mora ali! Há uma aldeiazinha indígena plantada nessa filial do Paraíso, sabe. Só um punhado de palhoças, espalhadas na beira do mato, tão poucas, tão humildezinhas, coitadas, que a gente até esquece que estão ali. Que a gente até esquece que está invadindo o quintal dos outros.

O povo que vive ali é muito, mas muito esquisito mesmo, seu diário. Quando a gente se aproxima, cumprimenta e tenta puxar conversa, a gente do lugar só se afasta de cabeça baixa e sem dizer um “ai”, como se nem vissem a gente, como se lembrassem de repente que deixaram alguma coisa cozinhando ou alguma torneira aberta... Credo, e euzinha achando que gente da cidade grande fosse sem educação!

Mas também pudera, né, seu diário, dê um desconto pra esse pessoal. Eles têm cara de quem já estava aqui bem antes do tal do Cabral aparecer, vivendo a mesma vidinha humilde e tranquila de pescador , nesse lugar lindo de morrer ...aí aparecem esses turistas enxeridos fuçando todo canto como que se fossem donos do lugar, vou te dizer, viu!

Ré, ainda bem que só tinha mulher e criança na tal aldéia, nenhum homem pra fazer guerra com os turistas cara-pálidas . Gozado,né? Os "machos" da tribo devem ter saído pra pescar, caçar, fumar o cachimbo da paz sossegados, jogar o campeonato regional de futebol de botão... Vai saber!

É, era pra gente se sentir mal com toda essa recepção, invadindo e tomando o espaço daquele pessoal, por mais murrinha que fosse a mulherada... Mas então vem aquela criançada toda pra salvar o dia e acabar de vez com o desconforto desse povinho da cidade grande! Afinal, chegando ao paraíso, a gente tem mais é que receber as boas-vindas de um comitê de anjinhos, não é mesmo?

Anjinhos morenos e sapecas feito capetinhas, todos aqueles curumins e cunhatãs (nenhum deles deve ter mais que sete anos)! As mães, tias, avós podiam ficar nos observando desconfiadas do fundo das suas malocas, mas a meninada brincou com a gente a manhã inteira, dividiu com a gente os quitutes do piquenique beira-de-praia, e toca a brincar de novo pela tarde afora (eu já te disse que o dia foi cansativo,não disse?)!

Sabe o que é engraçado, meu diário? Acho que das crianças eu não ouvi uma palavrinha sequer em português o dia inteiro! Só as risadas e os gritinhos alegres, as vozes agudas de passarinho, aquelas carinhas sorridentes pra todo lado... Aqueles olhinhos tão abertos de espanto com a gente e de satisfação com cada nova brincadeira ... aqueles olhinhos. Escurinhos, pretinhos, pretinhos...! Sem fundo, jabuticabas, pérolas negras ...

Bom, as mães, sei lá como eram seus olhos, nem dava pra ver direito as caras. O Afrânio ficou muito sem graça com a falta de modos daquela gente; cantou os maiores louvores do artesanato local, achou que a gente ia se entender bem com os "nativos", que a gente ia ,ré, ajudar a aquecer a economia local comprando um monte de lembrancinhas, mas nem, eles ( elas! ) não queriam saber de trocar presentes com a turistada.

Mas vou te contar, meu diário, os elogios do Afrânio foram mais do que merecidos. Mesmo com as índias brabas bancando os bichos do mato daquele jeito, eu , a Lucinha e as meninas prestamos muita atenção nos colares maravilhosos que elas usavam, o único adereço das coitadas. Mas, que nada: quem precisa se cobrir toda de bijuterias quando traz no colo aqueles arranjos de pedrinhas coloridas ... e ninguém sabia direito o que era aquilo, olhando à distância: se era coral, pedrinhas coloridas ou ossinhos de peixe, conchinhas pra lá de exóticas ... Mas, ah, nem dá pra explicar, sabe: todos aqueles colares feitos do mesmíssimo material, e todos diferentes um do outro, todos únicos! Tão simplesinhos...! Tão , tão diferentes...

Eram como presentes únicos para pessoas queridas sem igual. Pois eu lhe digo uma coisa, seu diário, daqui não saio sem um ou dois desses na minha bolsa!

Também não saio daqui sem o Tomás no meu bolso, meu diário bobo!

( ah, tá estranhando porque não falei mais no Tomás, hein? Ué, o senhor acha mesmo que eu dividira contigo a imagem do *meu* Tomás de sunguinha, é?!

E uma boa noite pro senhor, viu, seu diário safado!)

***

Bom dia, senhor diário! Desculpa te acordar a essa hora da manhã , mas, ah, eu tenho que te contar uma história enquanto ela está fresquinha na minha cabeça (ê noite bem dormida essa , meu diáriozinho do coração!...soninho gostoso esse, parecia até embalado pelo mar... parecia até que eu tinha um coro de babás cantando canções de ninar só para mim!).

Não ria tá?Vou contar o sonho engraçado que tive noite passada, seu diário, só pra você parar de me encher o saco!

Tá. Bem.

Sonhei que que estava cavalgando um golfinho mar afora, só isso,né.

...tá bom, tá bom, não é "só isso". Quer dizer, foi, mas nunca é, né.

Porque nunca dá pra explicar essas coisas direito. Foi tudo tão bom,tão gostoso,tão intenso,tão,tão...! Não vou dizer que "parecia tudo tão real",tá? Porque não era: parecia melhor.

Na verdade, eu me sinto é triste de pensar a respeito, porque aquilo deveria ser de verdade e nunca será ,né. Nunquinha.

Meu "amiguinho"nadava pra todo lado,eu, abraçadinha nele! A gente pulava, mergulhava, pulava, mergulhava, pulava...!Eu ria sem parar - quando tinha fôlego!-e ele ria junto, mas não aquela risada besta de Flipper. Era uma risadinha mais afetuosa, mais inocente...

Ah, não dá pra explicar mesmo! Pareço uma boba,né?(óóóó!diga que não pareco, senão você vira rolo de papel higiênico, diário!)

(se bem que, pensando melhor... Aquilo parecia mesmo, sabe com o quê? Com as risadinhas de contentamento da meninada linda na enseada do Paraíso! Ré, gozado, hein...)

Mas então! Eu e meu amiguinho risonho cavalgamos feito doidos logo à entrada da enseada, às margens da aldeia...parecia aquela primeira vez quando eu era pequeninha, andando de moto com papai, na garupa, apavorada e empolgadíssima, tudo ao mesmo tempo...

Pois é. Ai, ai.

Tem isso da tristeza, do melhor sorvete do mundo que de repente acaba e só sobra a casquinha... mas tem outra coisa também. É quase uma vergonhazinha de falar a respeito desse sonho, sei lá. Uma ressaquazinha moral!

Deve ser porque, no sonho, eu estava nuazinha em pêlo , seu diário bobo!

***

Boa tarde, meu diário! E, antes de mais nada , deixe eu lhe perguntar uma coisa: o que é melhor que banho de mar pra turista suado e mal-humorado da cidade grande, hein, hein, hein?

Banho de cachoeira, é claro!

Tá bom, quase, quase. Mas vou lhe dizer uma coisa: depois que eu me formar (ih, nem sei que faculdade vou fazer, não me apresse, seu diário, não me apresse!) e for rica e famosa ... e depois de me casar com o Tomás ! ...ou será depois de ter um monte de filhos e depois me divorciar do Tomás ?!... Ah, tanto faz: de qualquer jeito, um dia eu vou me mudar para essas bandas, ah, vou sim senhor!
Aqui só não há tevê a cabo e cobertura celular, mas, ué: de repente isso é vantagem. Quem precisa de televisão e de telefone no Jardim do Éden, ora essa!

Parece que há um monte dessas cachoeirinhas maravilhosas espalhadas por esses morros cheios de mato, a que gente “descobriu” (e nem tinha nome! acho que vamos fazer um concurso para batizar aquela beleza) foi por uma indicação vaga do dono da pensão. Vaga, mesmo, custamos a achar o bendito lugar, estou com as pernas todas riscadas de tanto andar pelo mato, ai! Eu nunca mais faço ecoturismo na vida...! Mas, ah, eu não engano ninguém, né, meu diário. Não preciso nem dizer que esse “sacrifício” todo valeu a pena, preciso?

Se bem que o passeio teve lá seus sustos, sabe. O bando inteiro tinha dado uma paradinha para descansar um pouco (e para se orientar melhor!), então eu , a Lucinha e a Bete avisamos à Rita que iríamos nos afastar pra, hmm, usar o wc ( seu diário bobão, pára de rir feito retardado!).

Sabe como é, né: eu precisei usar o wc mais que as meninas, daí elas ficaram de vigia enquanto eu estava ali, atrás da moita, fazendo força (nossa que vergonha!). E eu estava lá tranquila, me limpando (não ouse me perguntar o que eu usei como papel higiênico, diário!)... quando eu comecei a prestar atenção num cheirinho esquisito... não era tão ruim assim (ih, e não era culpa minha, viu!), era aquele cheiro de peixe pra todo lado, acho, só que não era mais tão enjoativo, e eu estava lá fungando, tentando descobrir o que era aquilo... quando ouvi um troço que pensei ser um eco, sei lá como, mas ouvi bem uma fungada como a minha. Ou pensei ter ouvido: prestei mais atenção, encucada... até segurei a respiração... e veio o barulho de novo. Não era só uma fungada: aquilo se repetiu, forte, fundo. Era como alguém respirando pesado pela boca....Credo!

Só sei que sai berrando de trás da moita e corri de volta para o bando estacionado lá adiante, a Lucinha e a Bete vindo logo atrás sem entender nada do que estava acontecendo. Custei a recuperar o fôlego, a Rita custou a me acalmar, penei pra contar a minha história direito. É, acho que ninguém acreditou muito que havia uma onça ou bicho do tipo (ou até... um caipira tarado, ai meu Deus!) espreitando a gente nessa matagual, ou pelo menos, ninguém quis admitir que acreditava naquilo, mas a caminhada até a bendita cachoeirinha foi um bocado tensa, eu tremendo que nem gelatina , a Rita e a Lucinha ao meu lado o tempo todo como duas guarda-costas...!

Nossa , que vergonha, que vergonha...! Eu nem tinha coragem de olhar para o Tomás (e até ouvia os meninos rindo de vez em quando... vergonha, vergooonhaaaa!). Mas, ah, sabe de uma coisa? Dali há pouco, todo mundo já havia esquecido desse barraco todo, eu mesma já tinha largado tudo para trás, naquela moita, até parar para escrever isso aqui .

Porque, ué: logo quando todo mundo já estava ficando de saco cheio daquele safari e o Afrânio e a Rita estavam se preparando para enfrentar um motim de alunos como nunca haviam enfrentado em sala de aula... A gente começou a ouvir aquele ruído de trovão além do matagual : que foi nos guiando, foi se aproximando, e com ele o tempo foi refrescando e, à medida em que o barulho rugia mais alto e o clima ficava menos quente e irritante, o humor da gente melhorava – e, ó lá, depois de uma curva na trilha, que dava na beira de um morro:

A Cachoeira-Sem-Nome, meu diário! Aquela ducha enorme e brilhante que desaguava numa lagoazinha aos pés de um muro de pedra, aquele braço de rio que resolvera parar ali mesmo antes de cair no mar, e ali ficou, na boa, na boa, feito turista folgado como a gente mesmo!...

Ré, essa ante-sala da enseada do Paraíso é um buraco, mas um buraco com um lado de pedra molhada faiscante à luz do sol, cortado por aquela brancura de leite da cachoeira (enfeitado de arco-íris de vez em quando!) e os outros lados de um verde molhado de vegetação, que a gente desce até chegar ao fundo fresquinho e mais escuro (e a gente na verdade não sabe onde fica mesmo o fundo-fundo mesmo disso tudo ; mesmo com toda molecada prosa e metida a besta, ninguém deu conta ou teve coragem de mergulhar até o fim daquele poço cada vez mais frio e escuro onde desaguava a cascata branca).

E nenhum monstro das trevas pra puxar o meu pé enquanto a gente nadava estabanada lá em cima, que pena! Ré ré. Não sei se era bem isso o que o Afrânio tinha em mente quando nos convenceu a visitar esse lugar esquecido por Deus (Aleluia!), mas só hoje eu fui ouvir direito as histórias malucas que ele vive contando. Que tudo começava com um filme de horror classe b chamado O Monstro da Lagoa Negra.

O lugar é uma delícia, mas a gente não tinha tanto o que fazer ali além de jogar água uns nos outros (ai, senti falta da molecada da aldeia!...), daí a gente passou muito tempo jogando conversa fora na “praiazinha”, comendo lanche, ouvindo o Jorge repetindo o seu repertório enjoado no violão... Quase um luau à luz do sol!

Luau nada! Luau matinê de domingo, isso sim, nenhum clima romântico, o Tomás e os meninos pareciam estar no recreio, eu me sentia de volta no primário, meio tímida e bobona, cochichando bobagem com Lucinha e as meninas Daí que, sem mais o que fazer, fomos lá ouvir o Fessor Afrânio soltando o verbo sobre sua pesquisa do coração.

Então, plantei a bunda na areia, do lado da Lucinha,divimos uma latinha de cerveja meio quente sob o olhar carola de "Dona"Rita - bem, coitada,né: ela não deve ter nem o dobro da idade da gente, mas parecia obrigada a agir como se fosse a avó de todo mundo. Ficava olhando pro 'fessor Afrânio, procurando apoio moral,parecia, mas ele estava mesmo era curtindo a garotada.

Aliás, nem sei o que ele tomou, fumou ou cheirou, só sei que era o mais animado do bando, silenciou e cativou todo mundo (de um jeito que nunca conseguiu em sala de aula, coitado)... naquela hora, a gente esquecia que ele era professor de qualquer coisa; e ele tem nome de sessentão, mas não deve ter nem quarenta ( e, como sussurrou a Lucinda, "até que dá pra comer",antes de soltar um arroto quente na minha cara,a vaca! )

Então, o tal monstro da lagoa. O Afrânio contou a história muito por alto, esse parecia ser um daqueles filmes trash de antigamente: um bando de cientistas gringos foi parar na Amazônia procurando seilá o quê, quando, de repente! Encontram essa espécie desconhecida de homem-peixe, “fóssil vivo” , que começa a matar todo mundo e coisa e tal.

Ninguém mais ali havia visto o tal filme, o Afrânio não se extendeu muito (o troço teve uma continuação, rá!) mas disse que o “design” do monstro era clássico, mesmo quem não conhecia a história iria reconhecer o bicho em qualquer lugar . Ele mesmo disse que o filme não era grandes coisas , a coisa mais clássica ali ( além da fantasia de borracha do tal monstro ) era uma sequência de nado sincronizado entre a criatura e uma personagem... não entendi muito bem, mas parece que tinha safadeza no meio!

Pro Afrânio, o que importava mesmo era o que ele descobriu ouvindo a faixa de comentário do dvd brasileiro : parece que a inspiração do tal monstro veio de uma história que um dos produtores do filme havia ouvido, uma lenda sobre um homem-peixe que seduzia mulheres humanas... Ré, uma lenda brasileira, é claro, e o Afrânio sorriu e fez um sinal para a Dulce esperar, que ele sabia o que ela ia dizer quando abriu a boca, e era o que tava na cabeça de tudo mundo que estava prestando atenção, né (o Fernando tava cochilando, a Clara tava limpando as unhas do pé, e o bobão do Tomás teve trocando piadinhas com o Digão, mas, ah, eu adoro aquele besta!...devo ser mais besta ainda , hein, dr. Diário, me explica isso, só pode!...).

O Afrânio só sorriu e disse: mas como é que o galã boto-cor-de-rosa (ahá!) vira assim um monstro asqueroso matador de gente?

A Rita resolveu entrar na história com uma explicação assim meio sem força sobre “xenofobia” e “ sublimação” e “esterótipo da sexualidade tropical” e “homem latino transformado de sedutor em predador” e o Afrânio ouviu tudo com muita educação até que a pobre fessora percebeu que ninguém tava entendendo e foi se calando aos poucos (coitada, ri ri -ó, não ria, diário!).

O Afrânio retomou calmamente a “linha do seu raciocínio”; disse que os índios brasileiros não tinham tradição de homens-peixe sedutores, que aquilo era influência portuguesa – a mãe d'água, a princípio, não era aquela sereia de água doce, era mais uma ninfa ou coisa e tal. Mas os brasileiros-brasileiros mesmo!tinha uma tradição própria de gente-peixe que não era nada bonitinha.

Acho que ninguém também conhecia os tais dos “Ipupiaras”(ih, acho que é assim mesmo que se escreve), mas até o Fernando acordou (e o Tomás e o Digão calaram a boca) quando o Afrânio falou das canoas viradas, dos índios arrastados pro fundo do mar, abraçados até se quebrarem todos...de como os monstros pareciam chorar de dor depois de matarem as vítimas desse jeito... e mesmo assim comendo seus rostos (e genitálias, eca!)antes de deixarem os corpos nas praias... Que romântico, hein, seu diário!...

Havia até uma crônica famosa sobre um senhor de terras na época das capitanias hereditárias que peitou um Ipupiara num duelo e até matou o bicho, mas nessa hora o encanto se quebrou, as gozações voltaram. Afrânio também riu um pouco (e ficou um cadinho mais na defensiva), disse que estava caçando não o bicho, mas a história, que era muito engraçado que o boto e o ipupiara tivessem se misturado na cabeça daquele produtor de Hollywood, que talvez houvesse algo mais naquela lenda que ele ouviu em primeira mão.

O Afrânio não estava atrás do pé-grande brasileiro ou do primo bronzeado do chupacabras, mas queria apenas seguir a lenda até a fonte, ou juntar os cacos da lenda para tentar reconstruir a história original. Não duvidava que, se houvesse algum grão de verdade naquelas histórias, os terríveis Ipupiaras deveriam ser apenas leões-marinhos, como diziam alguns, ou ariranhas, peixes-boi, algum outro bicho bizarro e feroz qualquer. O legal não era o monstro: o legal era a lenda, o modo como as histórias aparecem e mudam, e um encontro com uma foca furibunda se transforma , quando contado e recontado, em duelo com um monstro marinho sem igual. Ou em dois filmes estrelando um sujeito vestindo uma fantasia desajeitada de homem-peixe.

Como ele tentou arrematar a história toda: o que importa é a simbologia da coisa toda. Ré, tá bom, fessor. Se a tal “simbologia” faz a pele da gente se arrepiar toda desse jeito...

Ele tinha descoberto aquele canto do paraíso em suas andanças e deu a sugestão do destino da excursão escolar naqule ano, que o turismo ainda não havia chegado ali, só Deus sabe por quê (mas, Aleluia!) . Aquele cantinho esquecido do paraíso estava no meio do caminho dessa lenda doida; o Afrânio encontrava pedaços da história subindo e descendo o litoral brasileiro,mas os rastros sumiam ali. Havia um buraco nas variações regionais do "causo", faltava um elo que deveria estar ali e que ele não achava...provavelmente porque o bom povo da aldeia não estava nem um pouco a fim de papo com gente da cidade grande e Afrânio não tinha como , nem queria, forçar a barra. O jeito era curtir a praia até que a gente do lugar perdesse a desconfiança e, se ele conseguisse um belo bronzeado enquanto esperava, melhor !

Ré, pobre Rita. Na (looonga) caminhada de volta para o hotel, ela tentou dar sua contribuição àquela história toda (isso enquanto espantava os insetos e tentava apanhar fôlego),mas a coisa agora era um tiquinho confusa, "científica" e, cá entre nós, meu diário, eu não estava mais prestando atenção direito, com isso de andar pelo mato vendo aonde pisava, fofocar coma Lucinha e as meninas (e, é claro, ficar "vigiando" o Tomás fazendo molecagem com os garotos!).

Alguma coisa sobre uma teoria evolucionária, lá: "o primata aquático"! Aliás,tudo muito,muito difícil de engolir, sabe. Se entendi direito, essa teoria diz que, depois de descerem das árvores, os ancestrais do homem, meio gente,meio macacos, passaram uma boa temporada de alguns milhares ou milhões de anos se escondendo dos predadores no lugar mais seguro à vista... dentro d'água! Isso mesmo, seu diário, a gente veio do fundo do rio! Não é à toa que tem tanto cabeça de bagre andando por aí,né.

Tááááá certo. Dá-lhes ciência, Doutora Fessora Rita! Continue tentando impressionar o Afrânio desse jeito que um dia, quem sabe, ué!...

Ré, ré. Que maldade, seu diário ordinário!

Ah é, antes que eu me esqueça (até parece...). Já lhe contei sobre o que eu e as meninas fofocávamos tanto, hein, hein?!

É que hoje a noite tem... lu-UAU!

(a-fi-nal!)

Até amanhã, meu caro diário.

Bons sonhos! Ri ri.


***

Ah, meu diário, meu diário.

Acho que já está na hora de te deixar para trás,né. Junto com as bonecas, os bichinhos de pelúcia, todas essas coisas de menina.

Não sei se preciso mais ficar "conversando" com as páginas de um diário. Não sei mais se isso basta, se ainda tem graça, não sei mais nada , não, senhor, sim, senhor...

A noite começou mal - o luau começou "mau", rá,rá.

Aquilo era pra ser o luau mais vagabundo do mundo: a lua estava lá, no céu, esperando, mas quede a praia! De jeito nenhum, disse a encalhada , mal-comida da Dona Rita, no meio da noite, andando pelo mato?! Nem morta! (e o Afrânio não tinha como contrariá-la)

O “hotel” tinha um quintal grande mas um cado sujo que ficou a nossa disposição ( somos os únicos hóspedes por aqui, afinal), então improvisamos uma espécie de churrasco à meia-noite.

Eu estava tão animada com os preparativos, agitada, distraída com as meninas...quando dei por mim, olhando em volta, procurando Tomás:lá estava ele com os meninos, contando prosa,chapando todas. bebiam como se estivessem no deserto - Rita e Afrânio, sumidos sabe-se lá em que moita - logo estavam fazendo serenata desafinada pra gente (a gente fingindo que achava aquela desafinação toda linda... eu não precisava fingir, que nem estava ouvindo aquela zoeira... era engraçado, sabe. Eu parecia nas nuvens, não sei).

Eu estava afobada (admito!) pra puxar conversa com o Tomás logo de cara, qualquer assunto servia, sei lá:futebol, eleições, faculdade,eco-turismo, o sexo dos anjos!, mas ele estava com aquele bafo de pinga fedido, não sei aonde esse povo arranja tanta vontade pra beber!...

E logo , antes que as brasas do churrasco meia-boca já tivessem morrido, todos estavam caídos pelos cantos: Tomás escornado debaixo de um árvore. fedendo e roncando.

Fiquei puta, puta. Achei que era melhor eu me embebedar,também. Fui pra longe da fogueira, de todo mundo, de toda aquela merda, ah, nem sei aonde a Lucinha tinha se enfiado. Só eu e minha latinha de cerveja e a lua, chutando a poeira ,ouvindo o vento , ouvindo as ondas...

As ondas?

É, as ondas.

Comecei a ouvir um canto. Como o da outra noite. Só que a voz era uma só, masculina , mas suave, doce. E então eu tive a sensação mais engraçada...

Eu me arrepiei toda...o arrepio virou tremedeira...como se eu estivesse entrando em convulsão...

Comecei a me assustar , pensei que estava passando mal, que tinha pego dengue , malária, sei lá o quê. Pensei que tinham colocado algum negócio na minha bebida... Insolação, sei lá. Depois me lembrei que eu mesma tinha catado e aberto a latinha de cerveja, me tranquilizei, depois? Depois, não me importei mais com nada. Que tudo foi ficando mais engraçado. Esquisito, mas de um jeito gostoso.

A cabeça tava leve, agora, leve, leve. os pés também. Comecei a caminhar,sem ver, já tinha ido longe,solfejando, tentando acompanhar aquela cantiga,tentando encontrar a fonte.

Não sei como cheguei àquela caverna. se eu a procurasse hoje, não encontaria,aposto (é, como voltei pro hotel, também não vou saber dizer...sonâmbula acordada!não:acho que fui e voltei andando nas nuvens,mesmo), mas fui parar lá , de algum jeito. Os ecos, o som da cachoeira; lembro que me virei, e na entrada da caverna eu vi essa parede branca, a cortina da cachoeira caindo caindo caindo...

O lugar era lindo, um cado frio...úmido!:havia um brilho engraçado nas paredes da caverna mas a luz vinha mais forte da água: uma lagoazinha que brilhava no fundo...parecia cheia de diamantes..lagoa de diamantes...

foi então que eu vi o Tomás saindo daquela lagoa de pó de pirlimpimpim, e ele estava pelado...

Bom, quando eu vi o Tomás daquele jeito, eu comecei a rir, não porque vi qualquer coisa de engraçado,mas foi por espanto, encantamento, mesmo: a pele dele estava brilhando,sabe.como se ele estivesse salpicado de purpurina dos pés à cabeça.

quando comecei a rir, ele riu também, e foi um riso tão engraçado, o dele.tão diferente.

eu deveria parecer que estava chapada ...eu me sentia chapada, e eu, careta até alma, não ligava, só ria, ria...

e o Tomás, peladinho e brilhante, parecia chapado também; depois da risaiada, parecia apaixonado com minha tatuagem de golfinho,ficava olhando pra ela um tempão, depois se virou pra mim e abriu o sorriso mais besta do mundo.

E quando nós fizemos amor, ele gemeia e sussurrava coisas incríveis no meu ouvido, coisas que não sou capaz de repetir, lembrar, entender, e que adorei, faziam todo o sentido do mundo, e ele gemia mais alto , e eu ria, e gritava, e é bom mesmo quando doía e a dor logo evaporava e eu mordia seu ombro, abraçava seu corpo com mais força, puxava seu cabelo pra levantar seu rosto, beijar aquela boca, olhar bem dentro daqueles imensos olhos negros sem fundo, sem fundo, sem fundo...

***

Hoje é o dia seguinte.
Por que sempre tem que haver um dia seguinte?
Tomás não fala comigo.
Olha pra mim como se não me visse.
Será que ele bebeu tanto assim que não se lembra mais de nada?
Será que aquilo pra ele não foi nada? Será que é isso?
O que foi que eu fiz, meu Deus do Céu...

***

filho da puta
filho da puta
filho da puta
filho da puta
filho da puta
veado filho duma puta

***

Merda de dia.

Dia de despedida tem sempre que ser assim. Só falta chover, agora.

Tá todo mundo esquisito, parece mais que o mundo inteiro está de ressaca(FILHO DA PUTA!).Afrânio some e reaparece feito um fantasma,parece que tá fugindo de um fantasma, isso sim. A Rita está uma arara, estúpida, gritando com qualquer um por qualquer besteira.

Lucinha me chama para irmos à enseada "nos despedir". Não quero ir mas vou assim mesmo. Quero é estar longe dessa merda toda.

Fico com vontade de contar a merda toda pra Lucinha, mas não dá, ela não me dá chance: no meio do caminho , ela para, começa a chorar, diz que ficou com o Afrânio, diz que acha que a Rita descobriu, diz que acha que fez bobagem, que não sabe o que fazer. Eu abraço aquela idiota, afago sua cabeça enquanto ela soluça no meu peito, só consigo dizer, Que merda, Lucinha, que merda...

***

Tomás não fala comigo. Olha pra mim como se eu fosse apenas aquela colega de turma de antes da viagem, com quem às vezes ele se engraçava. Parece até que ele nem sabe que eu existo.

Não consigo falar a respeito com Lucinha. Ela só pensa no "Afrânio,Afrânio,Afrânio"!Já está me irritando.Mas,sei lá. Tem algo mais. Parece que tenho vergonha disso tudo, do meu romance na praia, do pé na bunda, ou raiva. Mas não é. É medo.

Daí, chega uma hora que eu me emputeço de vez, chuto o balde.

No meio do recreio. Eu tento por o Tomás contra a parede: olho ele na cara sem dizer nada...ele se espanta, fica sem jeito, vai fazer alguma brincadeira idiota pra se livrar do clima embaraçoso e então eu começo a entrar em pânico, vou embora feito, ah, você sabe. Feito uma colegial idiota. Só falto chorar de coração partido.

Porque eu olho naqueles olhos verdes do Tomás procurando algum sinal de reconhecimento... aqueles olhos verdes que me fisgaram desde a primeira vez...

E então eu me lembro de quando olhei pro rosto dele e pra dentro dos olhos... dele... naquela noite na caverna e tenho vontade de começar a gritar ali, bem no meio do pátido da escola.

***

não quero falar a respeito

não quero mais ter que pensar a respeito

***

Simbologia”, o cacete.

Eu tenho que falar a respeito, senão eu não consigor parar de pensar e pensar e então eu vou endoidecer de vez.

Porque, no fim das contas, eu trouxe mesmo uma lembrancinha daquela viagem. Ou duas.

Encontrei o colar quando já estava em casa, desfazendo minha mala. Ele é lindo, ele é único (como todos os outros que vi lá na aldeia), ele é só meu. Não faço idéia de como foi parar ali.

Só sei que ele tem um cheirinho gozado de peixe fresco que me dá vontade de vomitar.


E que meu período está atrasado .

Um comentário:

Anônimo disse...

Posso ficar abraçadinha com você Nando Reis (Clone)?