domingo, 30 de janeiro de 2011

[miniconto] quinze séculos passam logo

QUINZE SÉCULOS PASSAM LOGO

"Já chegamos?", pergunta Niña pela décima milionésima vez, segundo seus cálculos (nada aproximados:certeiros).
Não haviam chegado ainda, ela sabia bem e, mesmo assim,não podia deixar de se impacientar e de esperar e de perguntar...
O que ela não poderia saber com toda certeza:chegariam lá um dia, realmente?
Niña se impacientava, se inquietava, repassava os cálculos - sem muito mais o que fazer durante aquela viagem aparentemente sem fim.Nos porões da nave,duzentos mil setecentos e oitenta e cinco seres humanos (e meio; que havia as grávida para fracionar os números )hibernavam,gozavam em sono sem sonhos a viagem - longa, longa-até o planeta habitado mais próximo.
E Niña suspirava. ...tinha,afinal, todas as oportunidades para experimentar uma vasta gama de emoções naquela longa-longa!-viagem a velocidades que eram frações das da luz. Depois do frenesi inicial da fuga, o tédio; depois do anúncio da explosão iminente de uma estrela nova, os anos de preparo, o êxodo maciço da Humanidade:nem todas as naves conseguiram escapar à explosão monstruosa, nem todas conseguiram erguer suas velas/escudos a tempo, o horror cósmico que apagara o berço da civilização fornecendo o impulso inicial para a fuga dos filhos da Terra...
A melancolia pontuada de orgulho: Niña tinha tanto o que contar mas ninguém para ouvir suas aventuras... Só veria novamente suas companheiras a parsecs de distância,ainda: e então ela e todas as outras naves-mães poderiam enfim celebrar seus vôos inaugurais numa festa que brilharia mais que uma supernova...

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