“I'm fixing a hole where the rain gets in and stops my mind from wandering... where it will go”... Vou consertar um buraco por onde a chuva entra e impede minha cabeça de passear aonde ela quer ir, é o que diz essa velha canção dos Beatles. Ao menos, é isso o que eu imagino que ela diga.
Estou sem ideias. Estou sem inspiração. Estou sem saber aonde ir.
Há uma goteira no teto do escritório. Hoje a chuva cai fina, não há o pinga-pinga-pinga no balde de plástico sob a goteira, como há dois dias. Mas o buraco continua lá.
O tal buraco: ele pinga exatamente sobre a lâmpada no teto. Anteontem, a água escorria pela correntezinha que segura o lustre, escorria mais um pouco pela armação ao redor da lâmpada, depois pingava, pingava, pingava. Não trabalhei aqui, no sábado.
Antes disso, lá pelo meio da semana, a lâmpada no lustre já havia se queimado, tranquilamente. Piscou, piscou, apagou-se de vez. Não posso trocá-la, agora, não antes que o buraco no teto seja consertado, senão, lá se vai outra lâmpada novinha, queimada.
Estou sem ideias.
Uso uma luminária no escritório, agora. Trabalho de cortinas fechadas, a luz da rua me incomoda, causa reflexos na tela deste pc. Mas a luz da luminária não ajuda muito; ela é perfeita para o aconchego da leitura sacada de uma mesinha de cabeceira, não para o trabalho diário. Seu foco estreito demais e que incomoda como a luz de sol que invade o quarto pelas janelas, a não ser que fique do jeito que está agora, voltada para o outro lado, iluminando o quarto parca e indiretamente, anuada com meu pouco caso. Estamos sem ideias.
A chuva não quer parar de cair. E eu não quero parar de escrever.
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