domingo, 21 de novembro de 2010

[proposta de game & conto] r.i.p.:uma ligeira engasgada

INTERLÚDIO:
A segunda noite, a terceira noite... Quem poderia dizer? não Vlad.
(liga...desliga...liga...desliga...piscando para fora e para dentro da consciência...)


Vlad ouvia a canção do sanguessuga mesmo em sonhos.


O sono que não descansava, o sono quebrado daquela longa noite transformada em dia...dentro da caverna?caído no vale ao pé da montanha?-despertando,voltando a dormir, despertando de novo: e era como se o sonho fosse resetado a cada acordar.


No sonho, Vlad arrastava sozinho o sanguessuga montanha abaixo.levava-o nas costas, na verdade; a criatura sempre cuspia insultos em seu ouvido.

Vlad aguentava tudo em silêncio, e então o sanguessuga parecia mudar de tática.começava a entoar estórias bizarras,contar lorotas,contar vantagem - era especialmente irritante quando fazia-se de sabido, de um jeito idiota.

Dizia que a terra era plana; que o sol girava ao redor do mundo; que bebês nasciam em canteiros de repolho; que o mundo nascera há poucos milhares de anos e os homens nasceram prontos e não vieram dos macacos...


E Vlad sempre perdia a paciência: virava-se para responder à estupidez do outro, virava-se para se ver sozinho - o sanguessugava sempre havia saltado de suas costas, corrida motanha acima, gargalhando.


E Vlad subia até o topo, até a igrejinha, para encontrá-lo a espera, dormindo, dependurado de cabeça para baixo numa das vigas do teto. Pegava-o, colocava-o nas costas, e começava tudo de novo; sísifo era um moleirão perto daquela trabalheira toda.


Sempre, a cada vez que o apanhava, o sanguessuga lhe dizia a mesma coisa: você vai fazer isso de novo até aprender, moleque.


Você vai fazer isso de novo até aprender qual é o seu lugar.
 

Então, em certo ponto, o sonho recorrente mudou de tom, mudou de direção; exausto mesmo no sonho, Vlad custou a percebê-lo. Não descia mais a montanha, ou subia de novo e de novo com a mesma carga - a carga, dessa vez, ele a levava montanha acima. Depois descia sozinho, subia novamente com outro peso nas costas. continuava ouvindo a mesma arenga alucinada do sanguessuga.

Na nova continuidade do sonho, Vlad fez a jornada cinco vez. no fim , havia cinco cadáveres jogados na nave da igrejinha:no alto, o sanguessuga, dependurado, de braços cruzados, sorrindo, olhos bem abertos fixos em Vlad. 


Os cadáveres eram os dos membros do bando, é claro. e a arenga incessante vinha da boca do próprio sonhador.

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