quarta-feira, 11 de agosto de 2010

[mini-conto]eterno crepúsculo

ETERNO CREPÚSCULO

Tanto Johnny quanto Jane não punham os pés numa praia há décadas, desde os tempos do rockabilly ; desde a época em que foram batizados por vampiros beatniks que importaram a “moda” do Marrocos(trazida, por sua vez, por imigrante famintos de seu isolamento ecológico de séculos nas montanhas etíopes).
Ambos amavam luais sob as estrelas, mas a idéia sumira de suas mentes com a transformação; como se as praias fossem território sagrado, dedicado ao deus sol, vedados à tribo Cool, Os-de-Sangue-Frio.

Era com uma alegria infantil que dançavam entre as dunas na noite gelada, agora, rolavam na areia fina e cortante daquela praia sem fim, trocavam gritos de entusiasmo através de seus comunicadores.
cansaram-se das boas vindas festivas à nova terra; resfolegantes, deram-se às mãos, caminharam em silêncio até a Fronteira; às suas costas, o resto do bando montava acampamento, o mesmo entusiasmo transmitido à rádio de membro a membro da colônia. Estavam longe dos Caretas e de sua vida suburbana em technicolor, à beira de piscinas e sob um sol falso de Hollywood, e este era o paraíso.
E alguém começou a cantarolar Surfin’ in the USA, e Johnny e Jane sentaram-se no topo da duna mais alta, abraçados, aconchegados no gélido crepúsculo . Imersos no chiaroscuro da Fronteira mutante que sua trupe de  ciganos farofeiros perseguia noite afora - a linha divisória cambiante que separa o mundo banhado pelo sol daquele outro que agora era o seu, sua canaã, com a promessa de uma nova vida eterna nas trevas sem fim do nômade lado escuro da Lua.
Abraçados: contemplando o nascer da Terra nos céus , remota, complexa, tola, romântica.

[versão ligeiramente alterada de texto postado anteriormente em duas comundiades do orkut.]

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