quarta-feira, 11 de agosto de 2010

[mini-troço] monstro da semana: múmias

MÚMIAS
largado ao léu: deixado para amadurecer no fundo de um beco.o cadáver do moleque, anônimo (não se sabe quem o matou) & seu funeral de moscas.
o vento soprando entre os prédios, cobrindo o corpo de poeira: à milanesa - mas antes:
o sangue ainda fresco, esfriando (as feridas abertas à visitação das moscas); o refluxo da maré de pó, as folhas de jornal como águas-vivas suicidas, lemingues na contramão, naufragadas.
o corpo embrulhado por inteiro em páginas descartadas de velhas histórias - o açougueiro agita a mão irritado para afugentar as moscas - a encomenda pronta:
o homúnculo de papier machê, papel dissolvido pelo sangue e fundido à carne. o rosto oculto, a morte esquecida, a vida entumbada.
até mesmo as moscas o abandonam, afinal. sequer pode apodrecer em paz.

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