terça-feira, 22 de março de 2011

[miniconto] ele sempre volta

ELE SEMPRE VOLTA (a.k.a MONSTROS SAGRADOS 2)

[escrito para a SEMANA DO TERROR CLÁSSICO da comunorkut CONTOS FANTÁSTICOS ( sob o pseudônimo "Sigismundo Von Krapp")]

A lua cheia, a data sagrada, a conjunção cósmica - o templo milenar em ruínas:
A multidão observa num silêncio espectante enquanto os restos são depositados com  reverência no altar. O sacerdote entoa solitário hinos numa língua que ninguém mais conhece; a virgem nua aproxima-se altaneira da figura encapuzada, e apenas sorri  quando o oficiante toma a adaga cerimonial e abre sua garganta num só golpe.
O sangue jorra rico e quente e, sob esse banho escuro, os velhos ossos no altar começam a arder como brasa rediviva nas cinzas da lareira , e a tinir em macabra percussão - juntam-se como que sob o poder de um imã, enquanto o líquido precioso some da plataforma de pedra, sugado através dos poros do esqueleto agora inteiriço, que borbulha,infla,ganha massa, corpo, carne.
Por fim, o Filho do Dragão ergue-se nú e completo soltando um urro de triunfo que atrai do nada nuvens de tempestade: que encobrem a lua, como se ela fugisse do céu, com medo de sua própria cria.
O Filho do Dragão volta-se para a multidão jubilosa a seus pés - e seu sorriso demoníaco morre de uma só vez.
"Ah, não. De novo não..."
Sob a luz dos relâmpagos furiosos, o Filho do Dragão vê a multidão de súditos eternos arrecanhando suas presas e lambendo os beiços e começa a chorar como uma mulherzinha.
Enquanto a assembléia se atira sobre seu Mestre, ninguém presta muita atenção nas palavras do sacerdote, que urra aos Deuses da Escuridão louvores e agradecimentos por terem enviado à terra seu Filho , sua própria carne e sangue , imortais .
E então se junta à massa no banquete, antes que não sobre mais nada.

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