sábado, 26 de março de 2011

[conto-curto] o monstro da semana:tentáculos estupradores hentai

MONSTRO DA SEMANA:TENTÁCULOS ESTUPRADORES HENTAI

Sadako acorda assustada,olha em volta, perdida, esfrega os olhos, esticando-se toda; batendo cabeça por uns dez minutos, talvez,sentada no sofá, na semi-escuridão mutante da sala de tevê - a tela enorme de plasma
a sua frente, brilhando,pulsando fora de sintonia.
Dia cheio, dia duro: gentilmente, tira o pequeno Hermes de seu colo, deposita o cãozinho - que geme de leve em seu sono - de volta na depressão quente que ela deixara no sofá, sai cambaleando pelo apartamento; logo, o som da ducha aberta a toda, no banheiro do quarto, Sadako relaxa,começa a solfejar alguma boba canção de amor,sem nem mesmo perceber.

Hermes acorda de vez com o cantorio da dona, reverberando pelo amplo,vazio apartamento. Boceja mostrando todos os dentinhos ferozes, desce do sofá para ir em busca de sua própria ração e casinha - pára à saída da porta: volta-se para todos os lados, orelhas em pé.

A tela de tevê muda começa a ondular como a superfície de uma piscina iluminada e deserta numa madrugada fria, quando começa a soprar uma brisa que chega sem aviso. padrões surgem e somem, misturando, remixando, revirando sujando o azul-SEM-SINAL da tevê a cabo... padrões de interferência.

O cãozinho se espanta com a agitação efervescente, avança , afasta-se - o padrão agora definido, mas cada vez mais intenso, um ondular que vai e vem do centro da tela bate nas bordas e retorna o piscar de um ciclope de olho retangular e pálpebras triangulares:

Hermes para soltar seu primeiro latido de alerta quando um chicote transparente salta do plano vazado da tela, enrola-se sobre o animalzinho - o latido de imediato tornado ganido - enrola-se como uma língua de sogra e se retrai. O cão some,engolido pela tela.

A agitação diminui por um instante, a forma das ondulações, menos geométrica,mais orgânica,como que digerindo um pensamento, ruminando. E a tela transborda,então: pseudópodes sem forma definida escorrem das bordas da tela, ocupam toda a parede, despregam-se unindos agora em meia dúzia de tentáculos flutuantes como o primeiro fantasmagórico: avançam lentamente pelo apartamento para fora da sala de tevê.

fora da sala: o som convidativo da ducha, da voz de Sadako. os tentáculos se enrijessem - escurecem, emprestando cor e consistência das sombras do apartamento. ganham propósito: o feixe avança ,ainda contido,mas resoluto,começando a se enrodilhar como trança, um único membro - cruza negocia o pequeno corredor, chega ao quarto.

a proximidade daquele corpo molhado ensaboado,logo atrás da porta semi-aberta do banheiro:os padrões duros na superfície dos tentáculos unidos como que num cipó gigante, casca trincada de árvore queimada, couro de réptil - espinhos brancos e longos começam a brotar por toda a extensão daquele corpo, eriçando-se, pronto para o bote, já na porta do banheiro, já se umidecendo com o vapor do chuveiro -

o telefone celular berra estridente sobre a cama.o tronco vivo perde consistência,perde cor - retrai-se por inteiro do quarto. o ruído histérico dura pouco,porém; Sadako não o ouve,entretida em seu banho.

quando os ecos da chamada morrem, as extremidades tremulantes e sem cor dos tentáculos surgem à soleira da porta do quarto, tímidas.vasculham hesitantes o ar, esperam; por fim retornam - pressionadas por uma urgência furiosa, queimadas de frustão:vermelhas, agora, sanguíneas, seu calor iluminando carmesim o quarto. não seram mais negados: avançam numa massa aberta ampla que vai se expremer através da porta do banheiro ou arrancá-la de suas dobradiças e então--

Sadako fecha o chuveiro bruscamente. chama por Hermes uma,duas vezes,sem resultado. pensou ter ouvido algo, um som agudo,gritado. sai do banheiro enrolada numa toalha, caminha descalça pelo apartamento,ainda chamando o cãozinho.

pára ao chegar à sala de televisão; o aparelho está morto, desligado pelo timer que Sadako sempre deixa ativado. Ela dá de ombros, o bichinho deve estar escondido debaixo de algum móvel, roncando em sono alto.

volta rápido para o chuveiro, apressada, tremendo menos pelo frio da noite do que por uma vaga inquietação. Aquele som dolorido,agoniado; era semelhante ao que Sadako ouvira ao levar o pobre Hermes para ser castrado.

[texto irmão-gêmeo malvado de MONSTRO DA SEMANA:BATATA DE SOFÁ]

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