domingo, 17 de abril de 2011

[miniconto] círculos viciosos tomada 2: de volta à foz

CÍRCULOS VICIOSOS,TOMADA DOIS: DE VOLTA À FOZ
 
Era a única maneira, o único jeito de escapar daquele complexo labiríntico de cavernas: murmurando nervoso, impulsivo, aquela cantiga cuja letra ele mal lembrava - quem a cantara?onde a ouvira, mesmo?...- o viajante empurrou a canoa frágil para dentro do rio subterrâneo, caudaloso.
Remando - solfejando - negociou seu caminho ao redor das pedras, correnteza abaixo, na semi-escuridão de líquens luminiscentes cobrindo as paredes das imensas galerias. Talvez a fuga fosse mais fácil do que ele ousava imaginar. Talvez...
Logo a frente, a correnteza ganhava nova força - mas não descia: erguia-se, uma pequena mas vigorosa cachoeira, as águas do rio ascendendo até a abóboda rochosa...
Desesperado,  o viajante rema , tenta levar a canoa em sentido contrário... a embarcação gira, sobe a cachoeria, girando, girando, girando - é lançada ao ar, quando chega ao pico da queda d´água.
O viajante berra em seu vôo breve - logo , se cala, caindo no rio, afundando, engolindo aquela água, aquela água com um sabor próprio, um sabor que lembra, que lembra...
O rio mais calmo,agora : o viajante alcança uma margem arrasta-se pela areia , frio, tossindo...confuso. Onde estava? Sofrera um acidente, era o que parecia, mas como viera parar ali? Mais: como sairia daquele lugar?
Aturdido, o viajante explora os arredores... na cabeça, nada além de uma velha cantiga, insistente. Onde a ouvira antes? Quem a cantara?
"Lethe be, lethe be, lethe be oh lethe be...there must be an answer, lethe be..."

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