sexta-feira, 24 de junho de 2011

[conto-curto] com o suor de seu rosto

 
COM O SUOR DE SEU ROSTO

Foi com um espanto reverente que os sócios da Corporação Peregrino contemplaram os frutos de seu investimento: as vastidões selvagens, vivas e coloridas do primeiro projeto de terraformação em larga escala
bem-sucedido, o Éden 2.

Tinham o privilégio de serem primeiros humanos a pisar aquele solo verdadeiramente abençoado, acompanhados de uma pequena e já atarefada comitiva de técnicos. As sondas robóticas que os precederam, bem como as dezenas de satélites em órbita, já haviam emitido e confirmado o vereditcto positivo, o sucesso daquela empreitada, talvez a maior já realizada por uma pessoa jurídica na história humana (com a exceção talvez de alguams anomalias eletromagnéticas acompanhando certos conjuntos maciços de nuvens, mas nada preocupante, apenas faíscas do clima local,certamente, tão caprichoso como em qualquer outro ponto do universo).

Éden 2 fora construído ao longo de séculos sobre um planeta semelhante à Terra, orbitando uma estrela semelhante ao Sol, mas estéril, apesar da presença de água em forma de gelo. A colméia nanobótica fora lançada há pouco mais de uma dezena de anos, no calendário terrestre, mas a nave mãe que a continha e nutria levou de fato centenas de anos para alcançar seu destino .

Trazia em seu seio, porém, uma das extremidades de um "buraco de minhoca", um túnel de atalho na própria tecitura do contínuo espaço-temporal; a outra boca desse túnel permanecera em terra. Ambas minúsculas, a princípio, gêmeas separadas em sua criação , sincronizadas:  despertadas de seu estupor quântico e alargadas para dar passagem a sondas-robôs e investidores e técnicos humanos apenas quando da conclusão do trabalho titânico dos nanoterraformadores no agora oficial, finalmente batizado Éden 2.

Que fora projetado especifica,penosa,minuciosamente para ser uma reprodução perfeia do ideal humano de um Paraíso terrestre: para júbilo dos patrocinadores que agoram o conheciam em primeira mão, esta, a área residencial mais valorizada deste e qualquer outro mundo. Os satélites já haviam começado a demarcar a superfície do planeta, dividindo-o zelosamente em lotes para a venda.

A reação dos primeiros humanos àquele ambiente natural luxurioso não foi de todo interesseira,no entanto. Exclamações de deleite brotaram espontamente da pequena multidão quando um de seus membros examinava a fauna local, à distância segura permitida pelos binóculos, e apontava aos companheiros um leão que dormitava, sob a sombra de um arvoredo, com uma ovelhinha, tranquilamente acomodada e ressonante entre as patas do imponente felino.

Os aplausos e risinhos se extenderam automaticamente quando outro atento visitante chamou a atenção do bando para um passáro enorme que surgira do inteiro de uma nuvem com as dimensões de uma montanha, e que se aproximava velozmente.As vozes alegres se calaram logo, porém, quando os binóculos se voltaram em direção à figura alada quando vez maior e mais distinta nos céus: pois , além do par desmesurado de asas, trazia também braços, pernas, tronco e um rosto humanos.

A comitiva estava completamente abismada e paralisada de espanto quando o anjo finalmente parou, há poucos metros acima de suas cabeças. Ele tinha olhos imensamente tristes, e sorria sem jeito, e susteve essa expressão de alguém que pede desculpas mesmo enquanto decepava todas as cabeças humanas com sua longa espada flamejante.

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