sexta-feira, 19 de novembro de 2010

[proposta de game & conto] r.i.p.: primeira dentada



Prólogo em flashback:
TERCEIRA NOITE
O snowmobile passou a toda velocidade sobre o corpo caído do carniçal, cortando-ao ao meio e depois capotando - e enquanto era jogado do assento e enquanto voava por um segundo inteiro no ar gelado da manhã e enquanto quicava e rolava pela neve , Vlad pensava , "karma é uma puta".


Apagava e despertava com a dor e o ruído do motor, que morria aos poucos. O mundo, editado a sua volta pelos apagões intermitentes: num momento, estava caído na neve fofa, incapaz de se mover, o snowmobile virado, logo a frente - mais acima, na colina que descera a toda, e onde ainda eram bem visíveis os rastros do veículo, as duas metades separadas do corpo do carniçal, as pernas,na perspectiva fodida de Vlad, logo à esquerda do snowmobile, o tórax, braços e cabeça, bem à direita.

Antes de apagar pela primeira vez, Vlad notou as pernas escuras se agitando com força, como se o carniçal, ou parte dele, lutasse sair dali nadando pela neve afora. Daí puf.

Quando a luz se fez novamente - o morto enrouquecendo, perdendo a força - o "v" escuro e torcido das pernas se aplainara de vez contra a brancura da neve, quieto. Mas a porção superior do corpo do carniçal não estava a vista.Deixara, porém, um rastro de lesma de fluidos e vísceras tenuamente fluorescentes, competindo contra a luz do sol nascente refletida na neve sem fim.

Vlad fez um esforço desesperado para sair dali, ergueu-se com vontade de uivar de dor, caiu de cara no chão. puf.

Depois, outro despertar abrupto. a segunda metade do carniçal reaparecera: estava a uns três metros de distância de Vlad, aproximando-se lentamente, puxando-se a custo em direção à presa fácil. Não iria durar muito, mas Vlad desconfiava que iria durar menos ainda.

"karma é uma puta e quem se fodeu agora fui eu", pensou, e daí...

***
AQUI JAZ
R.I.P.
O JOGO ELETRÔNICO

Estágio atual de desenvolvimento: Morto-Vivo


ETIQUETA NO DEDÃO DO PÉ(nota introdutória)
A grande maioria dos links apresentados aqui leva a páginas em inglês, sorry 'bout that.

MEMORIAL(esclarecimentos e agradecimentos)
A proposta a seguir é inédita, mas não surgiu do nada: é o resultado de um processo de elaboração que já leva dois anos e que teve início no Curso de Projetos, na Escola de Quadrinhos .

O conceito foi gestado e testado inicialmente sob a orientação do professor ERICK AZEVEDO , com contribuições do diretor CRISTIANO SEIXAS e dos colegas BRUNO, LETÍCIA, PAULO, FERNANDA , THOMAS - e, em especial, do RONALDO PIMENTEL . O projeto inicial previa a criação de um jogo eletrônico e de histórias em quadrinho: Ronaldo desenhou páginas excelentes para a primeira história da série, não publicada, infelizmente.

Com a conclusão do Curso, e parceria firmada com o Erick, o projeto foi abraçado pelo GULLIVER VIANEI e  seu  Line Art Studio . Gulliver organizou rapidamente uma equipe e um cronograma para a produção de uma demo apartir de nossas idéias; infelizmente, não vou poder listar todos os membros do time - mas de jeito nenhum posso deixar de mencionar a arte conceitual fantástica que o SIDNEY TELES produziu durante o breve período de desenvolvimento do projeto.

Menção honrosa vai igualmente para o SAMUEL VALE, que ( salvo engano meu?...) trouxe pra discussão a possibilidade do uso da tecnologia Quake 3 para a produção da demo... sugestão que me guiou em boa parte do processo de...tentativa...de definição do projeto.

Falei mas acima em "breve período de desenvolvimento" porque puxei a tomada do projeto um tanto prematura e unilateralmente, por razões pessoais *tosse*insegurança patológica*tosse tosse*. Pedi um prazo de mais ou menos um ano para elaborar um projeto mais sólido, que tivera chance de redigir até então; eis o resultado, que não chega a ser um "design doc"e, sim, versão beta da proposta para o infame jogo eletrônico R.I.P. - e, mais importante, pra mim, a versão ômega do trabalho de fim de curso.

Enfim: agradeço imensamente  a todos os citados pelo apoio e paciência: taqui o meu registro, deixo a minha marca e vou ver se descanso em paz um pouquinho que seja, agora -ufa!



EPITÁFIO("logline")
Vida eterna, morte em vida.

OBITUÁRIO(síntese)
R.I.P.  é um jogo eletrônico de rpg estratégico, com fortes elementos de ficção científica e horror, passado numa versão futura do continente europeu arrasado por uma numa nova era do gelo ...e invadido por uma praga de vampiros criados em laboratório.

ATLAS ANATÔMICO(Ilustrações)
Coisa mais sem graça, não? Uma proposta de game sem imagens de referência.
Quem quiser excelentes amostras precoces de arte conceitual, siga os links mais acima - e ao lado,na barra de blogs que sigo - para o site do grande Sid Teles. Por enquanto,por aqui, as "ilustrações" serão a base de hiperlinks e das porções narrativas enxertadas na proposta; o conto de Vlad e cia. serve para dar uma visão melhor do mundo de jogo e , como "ilustração em texto", emula exemplos já sagrados em manuais de rpg tradicional.
ao menos, em tese.

***
Quando as luzes se acenderam novamente, o filme do mundo parecia estar rodando de trás para frente, acelerado: o carniçal não estava sobre Vlad, estava mais longe que antes do último apagão, e afastando-se depressa, agitando os braços (nadando em marcha-ré sobre a neve?)... não se arrastava mais - ou nadava- era puxado pelos cotovelos por dois cães da matilha de jerônio, seu cinza indeciso confundindo-se com a escuridão suja do carniçal sob à branquidão nascente da neve à volta.

Os cães largaram a presa após puxá-la por uma boa dezena de metros passando a latir e correr a sua volta; antes que o carniçal escapulisse para algum buraco escuro, já estava cercado por todo bando esbravejante - logo vinha Gerônimo, assoviando,xingando, abrindo caminho em meio ao mar da cachorrada, brandindo seu arpão de estimação. logo estava no centro do tumulto; Vlad não vi nada direito, apenas o pequeno lago em ebulição de pelos aquietando-se, abrindo-se, deixando espaço para o que pequeno esquimó erguesse a lança que era quase maior que ele e a enfiasse no chão com força e num berro que calou todos os animais. ela ficou lá, ereta, vertical, plantada, a cachorrada agora quieta flutuando a volta, um ruído de barata estrebuchando, Vlad julgou ouvir. Gerônimo deu um assovio de alívio, esfregou o suor da testa com um braço acarpetado no casaco de pele de bisão, puxou seu facão de cortar de gelo, afastou os cães com um pouco mais de delicadeza, debruçou-se sobre a presa plantada no chão - e estrebuchante - sumindo da vista de Vlad.
os outros demoraram um pouco mais para chegar, como sempre;  Pequeno Hiawata vinha logo atrás do pai e dos cães... e , depois, o o resto do bando.os sobreviventes da última "missão",isto é. a sorte é uma puta, mas não é traiçoeira: é justa.Se vlad morresse agora, não teria razão em reclamar.
o filho de gerônimo odiava o apelido, mas, ao menos não o chamavam mais de "Pocahontas";"Gerônimo" o era pelo tanto que ele vivia berrando com seus cães.e talvez fosse o velho esquimó quem gritasse e ralhasse com Vlad por toda aquela cagada, merecidamente, mas este não ligava: permitiu-se o luxo de desmaiar de vez, aconchegado,não mais sentindo o frio daquele inferno.


(continua)

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