INTERLÚDIO:
A segunda noite, a terceira noite... Quem poderia dizer? não Vlad.
(liga...desliga...liga...desliga...piscando para fora e para dentro da consciência...)
Vlad ouvia a canção do sanguessuga mesmo em sonhos.
O sono que não descansava, o sono quebrado daquela longa noite transformada em dia...dentro da caverna?caído no vale ao pé da montanha?-despertando,voltando a dormir, despertando de novo: e era como se o sonho fosse resetado a cada acordar.
No sonho, Vlad arrastava sozinho o sanguessuga montanha abaixo.levava-o nas costas, na verdade; a criatura sempre cuspia insultos em seu ouvido.
Vlad aguentava tudo em silêncio, e então o sanguessuga parecia mudar de tática.começava a entoar estórias bizarras,contar lorotas,contar vantagem - era especialmente irritante quando fazia-se de sabido, de um jeito idiota.
Dizia que a terra era plana; que o sol girava ao redor do mundo; que bebês nasciam em canteiros de repolho; que o mundo nascera há poucos milhares de anos e os homens nasceram prontos e não vieram dos macacos...
E Vlad sempre perdia a paciência: virava-se para responder à estupidez do outro, virava-se para se ver sozinho - o sanguessugava sempre havia saltado de suas costas, corrida motanha acima, gargalhando.
E Vlad subia até o topo, até a igrejinha, para encontrá-lo a espera, dormindo, dependurado de cabeça para baixo numa das vigas do teto. Pegava-o, colocava-o nas costas, e começava tudo de novo; sísifo era um moleirão perto daquela trabalheira toda.
Sempre, a cada vez que o apanhava, o sanguessuga lhe dizia a mesma coisa: você vai fazer isso de novo até aprender, moleque.
Você vai fazer isso de novo até aprender qual é o seu lugar.
Então, em certo ponto, o sonho recorrente mudou de tom, mudou de direção; exausto mesmo no sonho, Vlad custou a percebê-lo. Não descia mais a montanha, ou subia de novo e de novo com a mesma carga - a carga, dessa vez, ele a levava montanha acima. Depois descia sozinho, subia novamente com outro peso nas costas. continuava ouvindo a mesma arenga alucinada do sanguessuga.
Na nova continuidade do sonho, Vlad fez a jornada cinco vez. no fim , havia cinco cadáveres jogados na nave da igrejinha:no alto, o sanguessuga, dependurado, de braços cruzados, sorrindo, olhos bem abertos fixos em Vlad.
Os cadáveres eram os dos membros do bando, é claro. e a arenga incessante vinha da boca do próprio sonhador.
The Sunday Papers
-
Good morning, weekend wanderer of the World Wide Washout. Or if it isn't
morning where you are, good afternoon. Or if it isn't afternoon, good
evening. ...
Há 11 horas
Nenhum comentário:
Postar um comentário