segunda-feira, 25 de outubro de 2010

[mini-conto] contagem regressiva: sessenta milhões de anos

CONTAGEM REGRESSIVA: SESSENTA MILHÕES DE ANOS
O monstro tivera sorte.
Seu corpo vasto como uma lua incendiara-se na reentrada, ardendo  , agitando suas assimétricas asas e garras e tentáculos e caudas e cabeças em dor incalculável, uma dor maior do que a trazia àquele mundo jovem, despencando dos céus, em chamas, dizimando a maior parte da biosfera.
O monstro sentia alívio.
Atravessara abismos galáticos em sua viagem, uma jornada imensurável mesmo para um ser como ele, para o qual eras geológicas eram como meros dias entediantes. Morria na praia que era aquele mundinho por pura exaustão; não podia ir mais longe, mesmo um ser primevo e supostamente imortal tinha seus limites.
O monstro estava feliz.
Aquele mundo sobreviveria ao choque de sua chegada; tinha força, iria se recuperar e se renovar inúmeras vezes com o tempo. mesmo em sua agonia final , a criatura não se resistiu a extender sua consciência pentadimensional milhões de anos a frente, descobrindo, que o ponto de seu impacto estaria, nesse futuro longínquo, próximo, submerso pelo oceano água e seria cicatriz indelével no mapa geomagnético do mundo infante; como um memorial irônico. A cratera receberia de uma das espécies sentientes do planeta o nome "Chicxulub" e definiria uma mudança de eras, denominada "Limite K-T"; de certa forma, a chegada fulgurante e devastadora da criatura, qual estrela matutina despencando no horizonte, assombraria toda a história desses seres.
O monstro não invejava a sorte daquele mundo: o Kraken escolhera emergir de profundidades cósmicas e morrer tranquilo na praia daquele planeta pois fugia de algo muito, *muito* pior do que ele...











("inspirado" pelo gibi PESADELO SUPREMO... e baseado na obra de ...bem, você-sabe-quem, uai.
..."Mr. Haja Paciência Literária"* ahem*.)

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