terça-feira, 26 de outubro de 2010

[mini-conto] tinta fresca

TINTA FRESCA

O livro é grande, pesado (sem um traço sequer de cheiro de mofo), faz-se notar pelo volume que ocupa em qualquer estante e belo acabamento de sua encadernação, mas  também por seu completo anonimato. Sem uma palavra sequer em sua lombada, sem título,nome de autor ou uma ilustração na primeira capa. Aberto, mostra-se nu: esse sem fim de páginas em branco que se deixam passar como ondas, em massa. Nada. Nem texto, lição, história - nenhuma letra ou algarismo ou marca de impressão. Até o fim e de volta, passando e repassando toda essa alvura, escrutinando as folhas dos dois lados numa agitação crescente, em busca de um cisco sequer que seja em meio a toda essa--

Ah!

Delicioso! Extraordinário, de fato.

Uma safra excelente,  e devo dizer que tenho um paladar apurado para os bons leitores.

Mas, ora, não se intimide, não leve o dedo à boca como uma criança, não me encare com essa expressão de espanto. Convenhamos, ninguém nunca morreu de um corte de papel, não é mesmo?

Por outro lado...

Veja só, essa pequena e doce gota já está se esvaindo e eu ainda tenho tanto a lhe contar!...

Lembre-se, lembre-se: quanto mais se investe  numa um livro, mais se recebe em troca.

Vejo que teremos uma longa história juntos , você e eu. Estou sedento por novas experiências... você não?

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