[edit. 20/11]
(continuando)
(continuando)
...piscando pra fora e pra dentro do momento...
PRIMEIRA NOITE
A praga se espalhava como um esquema de pirâmide dos velhos tempos, pré-Yellowstone. o sanguessuga escolhia com cuidado um pequeno grupo de guarda-costas, conselheiros, "generais"; sua corte no feudo-franquia que buscava estabelecer. esse grupo era infectado, claro, mas tinha apenas parte de seu fluido cérebro-espinhal sugado pelo sanguessuga-mestre.os membros não eram mais humanos, mas ainda podiam manter uma aparência de humanidade,de civilidade:que usavam para arregimentar, pela sedução, pela trapaça e, por fim, pela violência,masi súditos para o mestre, mais clientes para a pirâmide.
Formava-se assim uma cadeia hierárquica quase militar , e certamente, alimentar. todos reportavam-se , direta ou indiretamente, ao sanguessuga originário; todos obedeciam-o cega, institivamente, até, como num vínculo entre viciados em drogas e fornecedro, exceto que mais primal, animalesco, inquebrável. no dizer de George, o inglês: "bloodsuckers" & "suckers".Quanto mais próximos do topo da pirâmide hierárquica, mais gordos, mais "humanos"...melhor alimentados. quanto mais próximos da base...Bem.
Vlad caminhava inquieto sobre a neve fofa, supervisionando de novo e de novo os preparativos para a viagem de volta, montanha abaixo até a beira do rio congelado, onde Gerônimo, Pequeno Hiawatta , os cães ,os trenós , o snowmobile e a chance de sair daquele buraco esperavam o bando. o "bando" era disciplinado, as tarefas já definidas e quase concluídas: a igrejinha queimava forte, a entrada para o ninho carniçal, situado nos subterrâneos, numa singela catacumba. a igreja era centenária, mas a catacumba, milenar.
Lá embaixo, nas chamas: vítimas recém-infectadas, arrastadas até ali pelos carniçais, já além de qualquer salvação, quase findo o processo de incubação... também os carniçais cães de guarda queimavam lá dentro; seus corpos, mas não suas cabeças, acondicionadas cuidadosamente em caixas isolamente bem lacradas e cheias de neve:pagava-se bem por esses troféus nos centros de pesquisa da praga, lá no sul. eram um bando mercenário,não missionário,afinal de contas.
O troféu maior era, é claro, o sanguessuga mestre local:amarrado em correntes, trancado num caixote de madeira que seria arrastado de liteira até lá embaixo.valia bem mais inteiro que em pedaços, mas vlad e, certamente, todos os membros de seu bando...todos os parentes de suas vítimas e das vítimas de monstro de sua laia...adoraria estar presente no momento em que fosse dissecado.de preferência,ainda vivo.
E, apesar desses pensamentos enternecedores, Vlad não podia deixar de se preocupar , como um cigano de opereta (talvez fosse um cigano de opereta, num palco de platéia invisível...)com a incosntância e o vai-e-volta kármico das coisas. Pois era desgraçadamente, o líder daquele bando, e todos tiveram sorte, muita sorte. o que deixava vlad nervoso: como supersticioso que tinha até medo de se confessar como tal, sabia que toda boa ou má sorte inconteste tem uma contraparte contrária, de força igual ou maior.como se sorte e azar fossem cumulativos , ou passíveis de juros e de cobrança imprevista.
E, inevitavelmente: assim que deu a ordem para o início da marcha de volta, começou a nevar.
Dentro do caixão arrastado morro abaixo, um zumbido leve de colméia: a risadinha chiante e escarninha do sanguessuga.
***
CAUSA MORTIS (Ponto de partida)
R.I.P. situa-se num futuro hipotético, semi-apocalíptico,semi-utópico.
O primeiro evento chave dessa linha de tempo ficcional é a explosão, em fins deste século, da "mega-caldeira" do Parque de Yellowstone, nos Estados Unidos , que libera gases tóxicos na atmosfera em quantidade suficiente para , em uma semana, sufocar toda a população da América do Norte...
A curto e médio prazo, os efeitos da explosão são ainda mais terríveis: a venenosa poeira vulcânica acumula-se na alta atmosfera,bloqueando parte da luz do sol, e causando assim um novo pico na intermitente era glacial que o planeta vive há alguns milênios.
Pelo menos um terço da população do planeta morre em consequência direta ou indireta da catástrofe. os números poderiam ser maiores: desenvolvimentos sociais e técnicos das décadas anteriores permitem que a humanidade sobreviva ao horror e, aos poucos, penosamente, reorganize-se num novo patamar de estabilidade.
No entanto, se as coisas poderiam ter sido piores, elas também poderiam ter sido...menos terríveis.
O segundo "evento" chave deste universo ficcional é o desenvolvimento secreto,nos anos anteriores a Yellowstone,de um sistema simbiótico de prolongamento indefinido da vida humana...uma versão de bioengenharia do velho sonho da pedra filosofal.
E o projeto é secreto pois exige cobaias humanas em número excessivo.E também porque seus patrocinadores desejam manter seu controle absoluto.
Quando o planeta já se encontra em pleno inverno vulcânico, os frutos do projeto começam a se revelar...mas jamais à luz do dia.
Porque seus beneficiários já aguardavam a hecatombe.Seus recursos permitiam prevê-la; a explosão de Yellowstone não poderia ser evitada...mas suas consequências poderiam ter sido mitigiadas com um alerta preventivo.
Mas os sanguessugas preferiam se calar, esconder-se... emergir quando chegasse a noite gélida e então reinar sobre as ruínas do mundo.
Sem jamais acreditar...sem jamais aceitar... que o mundo pudesse sobreviver sem eles.
[Nota nerd:
As inspirações primárias aqui as duas adaptações anime que Yoshiaki Kawajari fez de romances da série VAMPIRE HUNTER D, de autoria de Hideyuki Kikuchi , e tb. de 30 DIAS DE NOITE...não.
Bem antes do gibi de Steve Niles e Ben Templesmith, eu já tinha a cabeça feita em relação a vampiros fazendo a festa noite ártica adentro : já conhecia uma hq intitulada "ALVORADA DE VAMPIROS"(ao menos, assim era o título na tradução publicada na revista KRIPTA no.46, da editora RGE,abril de 1980). A arte era de Moreno Casares ... e o roteiro era do grande Archie Goodwin. Pra resumir: apesar de ligeira,esta é uma de minhas histórias de vampiro prediletas em qualquer mídia.
Duas outras influências básicas são o conto "A SAIDEIRA", de Stephen King, publicado aqui na coletânea SOMBRAS DA NOITE(minha edição é a da Francisco Alves) e o game HOSTILE WATERS, da companhia Rage ;outras referências e inspirações, tentarei indicar proposta afora.]
(continua, porra)
Um comentário:
Genial filósofo Nerykus, exijo sua opinião sobre a polêmica Jabor X Escorel em meu blog.
Agora.
Abs
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